quarta-feira, 6 de abril de 2011

A dor que não se vê

Saiba o que é a dor fantasma e como ela incomoda aos que tiveram algum membro amputado. A assombrosa sensação de sentir algo que não mais

Por Igor Augusto



A dona de casa Ivanir da Conceição Silva (foto acima), sente o pé direito adormecer e muitas vezes ele dói quando vai deitar. Só que tem um detalhe: ela amputou a perna direita na altura do fêmur há três anos. A dor que Ivanir sente é a dor fantasma. Isso mesmo, um membro que foi amputado pode incomodar o paciente como se ainda estivesse ali.

Existe também a sensação fantasma, que é quando você sente o membro perdido, mas não há necessariamente sensação dolorosa. A origem da doença está na reorganização cerebral após a amputação, explica o fisioterapeuta especializado em neurologia Ivo Koedel. Dentro do cérebro existe uma representação do nosso corpo: mãos, pés, braços, tudo está codificado, de acordo com um mapa feito pelo especialista Wilder Penfield.

O mesmo Penfield construiu um homem, com a representação da importância de cada membro. Quando uma parte do nosso corpo é retirada, a imagem dele continua no nosso cérebro, e, aos poucos, vai perdendo espaço. A face pode ocupar a região que cabia ao braço. Dessa forma, quando uma mão tocar o rosto, pode ser que o braço fantasma seja sentido. Esta teoria é confirmada por um estudioso do assunto, o indiano Vilayanur S. Ramachandran, no livro Fantasma do cérebro.

O fisioterapeuta Lizandro Rogerio de Paula Ferreira segue a mesma linha de pensamento. Do indiano Vilayanur S. Ramachadran, no livro Fantasma do Cérebro. “Tudo é uma questão de remapeamento do cérebro”, afirma Ferreira. Ivanir faz fisioterapia duas vezes por semana, às terças e quintas. Depois de oito minutos fazendo um exercício para postura, ela se cansa, e senta por três minutos. Devido a um problema de circulação aliado ao diabetes, teve a perna retirada. Começou a sentir o fantasma logo depois da operação.




Assim como Ivanir, o dono de um salão de cabeleireiros, Antonio Amaraji de Sousa (foto acima) também não tem um pé. Só que o dele é o esquerdo e a altura é um pouco mais próximo do chão, na tíbia. O diabetes também fez com que um pequeno machucado não cicatrizasse, o que levou à amputação. Ele sente dores e também coceira no pé fantasma. Ivanir mora em Cubatão e Sousa em São Vicente.

— Como faz para eu tratar essa dor? — pergunta Ivanir, em um dos momentos de descanso da terapia.

A pergunta complexa também não tem respostas fáceis. O fisioterapeuta Lizandro Ferreira trabalhou com estímulos no membro ainda existente, como acupuntura. Ainda existem trabalhos para tirar a sensibilidade do coto. O ideal é sempre procurar um médico e ser encaminhado a um fisioterapeuta.

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